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ORIGEM DO SOBRENOME "PALÙ"

(Extraído do livro "ITALIANOS NO NOVO MUNDO")

 

        Foi no início da idade média que os sobrenomes começaram a ser usados para distinguir pessoas com o mesmo nome próprio ou nome cristão. Com o crescimento das sociedades e o desenvolvimento da documentação, na idade média, os sobrenomes tornaram-se essenciais e descreviam seu negócio, lugar de residência, nome do pai ou alguma característica física ou pessoal que era passada para os filhos, até o ponto de se tornar hereditária.[1] 

         Os cognomes, sobrenomes (e seus apelidos) ou nomes de família já eram utilizados na antigüidade. Os especialistas estimam que o primeiro povo conhecido a se utilizar de sobrenomes foram os chineses, e entre as histórias mais famosas, distingue-se a do imperador Fushi, que decretou o uso de sobrenomes (ou nomes de família) no ano 2.850 a.C.[2]

         Os romanos possuíam um sistema próprio de distinguir uma pessoa de outra pelo nome e por outros apostos a ele. Pela história desse povo, julga-se que este sistema tenha surgido em épocas remotas e que já fosse de uso comum logo após o início da expansão do poderio de Roma. Possuíam, também, um sistema pelo qual identificavam no nome do indivíduo qual o seu clã de origem, sendo esta uma forma de se identificar um grupo familiar em específico. Porém, com a queda do Império Romano, em 476 d.C., esse sistema virtualmente deixou de existir, caindo em desuso.

         Na idade média (476-1453) passou a vigorar tão somente o nome de batismo para designar, distinguir e caracterizar as pessoas. Fala-se em nome de batismo porque, na época da queda do Império Romano Ocidental, a península itálica já era praticamente toda cristã.

         Por outro lado, os povos invasores foram cristianizados em massa no período que se seguiu à desagregação do Império. O cristianismo se tornou um elemento aglutinador que aproximou todos esses povos.

         O estabelecimento de vários povos estrangeiros introduziu uma grande variedade de nomes e palavras que, paulatinamente, foram sendo latinizadas. Salienta-se que os povos estrangeiros não possuíam a tradição da “sobrenominização” das pessoas, o que acabou influindo, sistematicamente, no abandono deste costume.

         O aporte de grande acervo de novos nomes trazidos pelos povos invasores, principalmente germânicos, o abandono da sistemática latina de individualizar pessoas e a influência do cristianismo que difundia os nomes de seus mártires e santos, criaram uma confusão generalizada, pois os nomes se repetiam com freqüência, o que tornava difícil distinguir um indivíduo de outro. Surgiu, então, a necessidade de se estabelecer uma modalidade para se distinguir um cidadão do outro e, para tal finalidade, foram criadas algumas fórmulas. Na verdade, não foram estabelecidas normas baixadas por autoridades mas, sim, surgiu um modo espontâneo na pena do escrivão, no convívio social e na linguagem popular, que inventava formas para distinguir os dez ou vinte homônimos[3], que viviam na mesma comunidade.

         Os primeiros registros do uso de sobrenomes familiares, como hoje os conhecemos, foram encontrados por volta do século VIII, ou seja, após o ano 701 d.C. Na Inglaterra, por exemplo, só passaram a ser usados depois de sua conquista pelos Normandos, no ano de 1066. Foi só no inicio do renascimento que os sobrenomes voltaram a ter aceitação geral.

         No ano de 1563, o Concílio de Trento concretizou a adoção de sobrenomes, ao estabelecer nas igrejas os registros batismais que exigiam, além do nome de batismo, que teria de ser um nome cristão, de santo ou santa, um sobrenome, ou nome de família.

 

SIGNIFICADO

  

         Segundo Luiz Carlos Benzi, através de uma pesquisa encomendada pelos autores, o sobrenome familiar “Palù” foi classificado como sendo um toponímico, palavra derivada do grego, composto de "tópos" (lugar) + "nomos", nome: designação de sobrenomes derivados de lugares ou acidentes geográficos.

         Nestes casos, topônimos nada tem a ver diretamente com apelidos da família mas, com o estudo da origem dos nomes de acidentes geográficos que, por sua vez, foram adotados como sobrenome por muitas famílias. Topônimo é, portanto, o nome próprio de lugar,[1] como por exemplo, Europa, Espanha, Amazonas, Pará, Brasília, Maceió, Serra do Mar, Solimões.

         Os sobrenomes englobados sob o título de toponímico são, geralmente, mais fáceis de serem reconhecidos do que os demais, pelo fato de se reportarem a um determinado local, a um espaço físico, a um ponto de referência específico, situado no tempo e no espaço. Grande parte dos toponímicos se originaram diretamente da denominação de uma cidade, de um povoado ou de uma região e, normalmente, o uso como sobrenome familiar repete o próprio nome da localidade ou faz uso do gentílico.[2]

         Ao mesmo tempo, cumpre salientar que muitas outras famílias, nascidas nessas localidades, também adotaram-na como sobrenome familiar e, desta forma, nunca se pode afirmar que duas pessoas que se utilizem do mesmo toponímico como sobrenome sejam, de fato, parentes, sem antes fazer uma averiguação detalhada em suas árvores genealógicas.

         Trata-se o sobrenome de um toponímico, pois “Palù” é também o nome de uma pequena cidade italiana situada na região do Vêneto, Província de Verona, que atualmente estende-se por uma área de aproximadamente 13,47 km² e faz fronteira com Oppeano, Ronco all'Adige e Zevio. O nome dessa localidade derivou do latim "palus" ou "paludis", cuja melhor tradução seria algo como "pântano" ou "local alagadiço", provavelmente referindo-se às características geográficas do local. Em território italiano existem outras localidades assim denominadas, como é o caso de Palù del Fersina e Palù de Giovo, ambas pertencentes à região do Trento, entre outras.

         Desta forma, estima-se que entre os séculos VIII e XV, período em que 90% dos sobrenomes se formaram, possivelmente alguém, cuja origem esteja ligada a essa localidade ou a um local alagadiço, foi conhecido como "Fulano, di Palù", “della Palù” ou “da Palù” e, quando teve um filho, acabou repassando a ele o nome pelo qual foi conhecido, como forma de identificá-lo como membro de sua família. A partir de então, o mesmo acabou sendo conhecido como “fulano, filho de Palù”, “fulano de Palú” ou “fulano della Palú” e, daí para frente, ao ponto de se tornar um sobrenome familiar.

         É importante observar que a presença, ainda nos dias de hoje de muitos sobrenomes de antiga origem, como veremos adiante ser o caso dos Palù, entre outros, evoca a idéia de famílias vencedoras ou sobreviventes às batalhas, pois desde muito antes dos sobrenomes a dominação dos territórios era feita à força, através de guerras e batalhas nas quais apenas os vitoriosos sobreviviam. Tanto é verdade que muitas famílias acabaram dizimadas nas lutas pelo poder ou por terras e, das quais, atualmente, só se tem notícias em livros de história, acabando por desaparecer completamente. É possível imaginar, também, que o grande número de filhos, prática historicamente usual, sobretudo na Itália, permitiu que este sobrenome familiar não se extinguisse ao longo dos séculos.

         Segundo Carlos Eduardo Barata, foi a partir dos séculos XII e XIII que passou-se a utilizar a conexão “de” para ligar o nome da pessoa a uma localidade ou castelo, como indicativo de nobreza, como por exemplo: Lorde John de Nottingham, em que o nome Nottingham provém da localidade ou do castelo, ligado pela conexão “de” ao nome do seu titular, John.

         Para o The Historical Research Center, existem vários sobrenomes poloneses com esta origem como Palusk, Paluch, Paluska e Paluk. É possível, também, que o nome Palù possa ter sido abreviado dos exemplos anteriores. Tal hipótese, todavia, permaneceu isolada durante nossas pesquisas, porque não foi localizada nenhuma outra referência que reforçasse esta tese.

         Ainda, segundo o The Historical Research Center, seria digno de registro como notável dono deste nome, Pierre de la Palù, patriarca Latino de Jerusalém no período de 1280 a 1342.

         Outra hipótese, finalmente, é de que o nome Palù tenha sido adotado por esta família por ser um nome bíblico, possibilidade esta que se coaduna com a utilização de nomes de santos por parte dos italianos.

         "No passado era uma espécia de norma (não de lei) que as pessoas batizadas recebessem  apenas nomes cristãos no batismo, os quais eram mantidos mesmo que a pessoa adotasse um outro nome civil. Num passado ainda mais remoto, os nomes de batismo funcionavam como uma espécie de registro civil na maioria das vilas e cidades italianas, não sendo por outra razão que a Igreja é considerada naquele país como o centro mais confiável de informação para organizar árvores genealógicas, ou mesmo para localizar laços familiares perdidos.”[3]

         "Durante muitas décadas a tradição se encarregava de dar nomes às crianças. O primeiro filho  homem costumava receber o nome do avô paterno, enquanto o segundo recebia o nome do avô materno, prevalecendo a mesma regra para as meninas, que recebiam o nome da avó paterna e materna, respectivamente. Todavia, não eram raros os casos em que o costume era quebrado e as crianças acabavam mesmo recebendo nomes de origem cristã como Maria, Caterina, Giovanni, Giuseppe, etc...”[4]

         E basta uma leitura no Livro Sagrado, A Bíblia, para encontrarmos as seguintes referências:

         Gênesis 46:9   “Os filhos de Rúben: Enoque, Palu, Hezrom e Carmi.”

Êxodo 6:14 “São estes os chefes das famílias: os filhos de Rúben, o primogênito de  Israel: Enoque, Palu, Hezrom e Carmi; são estas as famílias de Rúben.”

Números 26:5 “Rúben, o primogênito de Israel; os filhos de Rúben: de Enoque, a família dos enoquitas; de Palu, a família dos paluítas;”

Números 26:8 “O filho de Palu: Eliabe.”

         I Crônicas 5:3   “foram estes: Enoque, Palu, Hezrom e Carmi.”

         De qualquer forma, em que pese a possibilidade levantada sobre a origem Bíblica do nome Palù, constante dos registros italianos há cerca de 900 anos, isso ainda não explicaria sua origem até chegar à própria Bíblia, o que nos leva a deduzir ser mais factível de que se trate da primeira hipótese, toponímico, ou seja, designação de sobrenomes derivados de lugares ou acidentes geográficos.


[1] HOLLANDA, Aurélio Buarque de, Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI, 1999.

[2] “Gentílico”: diz-se de adjetivo que designa povo ou nação.

[3] MARTINS, José Roberto. “Presságio O Livro dos Nomes”. Alegro Editora. São Paulo: 2002, p.271.

[4] MARTINS, José Roberto. op. cit, p.271.

 

[1] Fonte: The Historical Research Center.

[2] Fonte: Instituto Heráldico Benzi.

[3] Homônimos: pessoas com o mesmo nome.